Hasegawa Polikarpov I-16 tipo 24 em 1/72
     Início: novembro / 2006
 Término: novembro / 2007

 

Este projeto começou quando eu perdi um pouco o interesse no He-170. Eu tinha feito uma visita ao Alfredo Dillenburg e ele me mostrou o I-16 dele e disse: "Meu recorde: montei e pintei em uma semana". Aí eu pensei: "Esse cara não é mais homem do que eu. Se ele monta em uma semana, eu também monto". Primeiro eu tenho que puxar o saco dele e reconhecer que ele realmente monta mais rápido do que eu. Também achava que ele era menos neurótico, mas depois da história do Spitfire... Em segundo lugar, acho que faço um favor a todos interessados neste kit. Ele realmente é bem moldado e encaixa super bem. No entanto, comparando (tardiamente) com desenhos russos dá pra ver que ele têm sérios problemas de forma. As seções transversais da fuselagem estão bem erradas, e as formas das asas e dos estabilizadores também. Para vocês terem uma idéia, deixem-me citar Erik Pilawskii no seu excelente The I-16 In Plastic (os grifos são meus) sobre o tipo 24 da Hasegawa em 1/72:

"The various Hasegawa I-16s are widely available world-wide, and usually in stock in most large hobby shops. These kits include extra parts such as ski landing gear and two ShVAK cannon in some versions, but the mold is unchanged between all of the released kits. The engineering on the Hasegawa kit is quite nice, as a matter of fact, and the fit and construction of the kit is quite enjoyable. The cockpit is rather plain, as can be true with Hasegawa kits in 1:72 scale, and in need of improvement. Alas, these facts do not save the kit, for it is plagued by gross shape and planform errors in virtually every area of the aircraft. These inaccuracies, sadly, mar an otherwise fine effort. The fuselage most closely represents a Type 24 machine, but the shape and details are fairly out of sorts. I have built this kit with the fuselage 'as is', but more detailed modelers will want to correct the shape of the fin/rudder, and the profile of the fuselage. The fuselage is too narrow, as well, and card should be inserted to correct this problem. The wing inner sections are basically acceptable, but the planform of the outer portions are horribly wrong. The result is a model that does not resemble an I-16 very closely; the 'look' is quite spoilt by these defects. This is all the more unhappy, as the technical treatment of the wing ribbing details, especially on the undersurface, are really quite good and to my liking. The cowling is similar to the ICM kit, and will require modification to the lower oil cooler intake shape. Also, ski-gear troughs will have to be added for any realistic I-16 variant to build with this kit. A propeller hub is kindly provided, and the spinner itself is a very good representation of the M-62/constant-speed prop combination, as on the Type 18 and 27. In all other respects, the kit is basically sound and buildable. The various markings and decals provided in these kits are generally of little value, as the version described thereby cannot be made with the kit. The coloration of some markings is quite strange, as well, and therefore beyond use. In general, these instructions were completed in an era before any modern references were available on the I-16, and they reflect this condition. Possibilities: NeOmega have come to the rescue of this otherwise useful kit by issuing a set of correction outer wing sections in resin. These units are delightful, fit very well indeed, and make all of the difference on this model. In fact, I cannot contemplate building this kit without them. The Types 24 and 28 are a realistic possibility with this kit only by finding a proper spinner, and the 18 and 27 could be completed with some work."

Como vocês podem ver, este kit é perfeito somente na caixa. Não faça pesquisa nem abra qualquer livro sobre ele. Apenas divirta-se. Eu ainda tenho dois I-16 da ICM (um tipo 24 e um tipo 28) na caixa, e a comparação é muito desfavorável ao Hasegawa. Além disso, os ICM são mais baratos e vêm com o motor completo. Em resumo, recomendo o Hasegawa para quem quer facilidade e encaixes perfeitos. Para quem estiver disposto a gastar mais lixa em troca de um kit mais fiel ao avião real, eu recomendo o ICM.

Mas vamos ao Hasegawa. Eu comecei fazendo diversos componentes do cockpit. Além do acelerador e outras alavancas, um item particularmente importante é a manivela que recolhia do trem de pouso, bem visível no lado direito do piloto.




Minha idéia inicial era perfurar as aberturas por onde saem os escapamentos (que no kit vêm moldados integralmente na fuselagem) para inserir novos, mais realistas. Caguei na hora de furar e resolvi copiar os paineis do motor que vêm no kit da ICM. Os tubos de escapamento são de latão, cortados e lixados obliquamente:



Como o cockpit do I-16 não tinha iluminação elétrica, existiam dois 'buracos" na fuselagem, acima do painel de controle, para prover uma iluminação natural dos instrumentos. Essas aberturas foram feitas no "olhômetro", já que eu não tinha nenhum desenho detalhado dessa área. Os detalhes estruturais moldados nas fuselagens foram removidos e refeitos. A porta do piloto foi cortada para aumentar a visibilidade dos detalhes do cockpit. No final farei uma nova em scratch que será instalada na posição aberta.



O cockpit foi feito do zero. Usei apenas o manche do kit. Reproduzi o IMUP blue-grey primer misturando azul, branco, cinza e verde Vallejo. Os cintos são de um velho fotogravado da Eduard. O painel de controle é do kit, pintado de cinza escuro com o decal sobreposto. Alguns detalhes foram adicionados em vermelho e amarelo e uma gota de Future aplicada sobre cada relógio para simular os vidros.



Depois de um wash com óleo Sombra Natural da Corfix, dei uma "arranhada" em tudo usando um lápis. Também inseri os cabos e fiação que seriam mais visíveis nas paredes do cockpit. A seguir o chão do cockpit foi colado e ajustado para fechar a fuselagem:







Uma fez com a fuselagem fechada, foram adicionados/corrigidos alguns detalhes mais visíveis. Os painéis do motor foram colados e ajustados e a asa foi instalada com fita para verificar o encaixe.







O I-16 tinha uma cinta característica ao redor do capô do motor, geralmente em metal natural. Essa cinta vem moldada nas fuselagens, e então eu tive que lixar a parte frontal da fuselagem até que tudo ficasse alinhado com os painéis laterais do motor. A cinta propriamente será reproduzida com um disco que fica entre a fuselagem e o capô frontal do motor. Assim eu posso pintar a cinta (disco branco, na foto abaixo), o motor e o capô frontal separadamente e montá-los após a camuflagem ter sido aplicada. A maior vantagem está no fato de não ser necessário mascarar os escapamentos durante a pintura da camuflagem, já que o motor pode ser instalado no final. A entrada de ar do carburador é moldada no capô frontal como um triângulo. Ela deveria ter a forma de um "T", mas agora vai assim mesmo. Me limitei a reduzir a espessura do capô onde as venezianas de resfriamento são encaixadas e perfurei as extremidades das metralhadoras.



O motor foi então finalizado com a inserção dos escapamentos. Se vocês repararem bem, verão que o I-16 tipo 24 tem seis aberturas para os escapamentos, mas o motor tem nove cilindros. Ambos os escapamentos da barriga e um dos laterais são duplicados. Foi necessário fazer um trilho para encaixar o motor dentro da fuselagem na posição correta. O motor literalmente clica na posição...



 


Com tudo verificado, colei definitivamente as asas e instalei um tubo de Pitot feito com agulhas de injeção. Dei um primer nas regiões críticas e apliquei um pré-sombreamento com tintas acrílicas:


 
Como o spinner do kit é aplicável apenas para um tipo 18 ou 27, resolvi fazer outro. Para não canibalizar nenhuma peça do kit da ICM (que vem com o spinner correto), fiz uma cópia em resina e termoconformei um novo sobre a cópia:



Paralelamente, eu decidi que melhorar o trem de pouso, também. Não há nada de errado no do kit, mas ele é muito simplificado. As portas do porão de rodas foram copiadas do kit da ICM, que trazem os reforços internos (enquanto os da Hasegawa são completamente lisos). As rodas da ICM também são muito bem feitas, sendo possível até ler as marcas do fabricante do pneu em alto relevo. Aproveitei e as copiei também:





As portas secundárias do porão de rodas são do kit, mas reduzi sua espessura para aproximadamente metade da original. Fiz a coifa protetora de couro da bequilha esculpindo massa e finalizei o spinner com linhas de painel e rebites.



A abertura para as pás da hélice foi fechada na parte de trás do spinner, como no avião real. As pás serão inseridas pelas aberturas, depois de pintadas.
Tanto no kit da Hasegawa como no ICM o spinner é colado sobre a hélice, e por isso ele não poderia ser fechado - fácil para o fabricante do kit, mas pouco fiel à peça real. O eixo da hélice (do próprio kit) agora é montado por dentro do novo spinner, deixando visível a abertura do canhão e o encaixe para as lanças dos caminhões Zis que faziam a ignição (o I-16 não tinha sistema de arranque).

A última etapa
trabalhosa de montagem foi o detalhamento do trem de pouso principal. No I-16, as portas eram fixadas às pernas do trem com duas barras soldadas. Fiz apenas uma delas, que era mais visível quando o avião era visto de frente. A parte mais chata foi reproduzir o mecanismo que fechava a porta semi-circular. Era basicamente um sistema tipo alçapão, com um cabo fixado à superfície inferior da asa. Explico isso melhor quando instalar o cabo. Também adicionei uma série de pedaços de sprue esticado para simular os parafusos das várias braçadeiras.





Na sequência, instalei os canhões das asas e testei o alinhamento do trem de pouso principal, enquanto a cola não secava.





Tudo Ok. Removi o trem de pouso e dei uma boa lavada no kit. Hora que iniciar a pintura da camuflagem. Resolvi começar pelo azul. Tecnicamente, os I-16 eram pintados com AII blue, um azul claro bem intenso. O esmalte sintético Revell 55 Blue Green reproduz fielmente esta cor, só que em 1/72 o efeito fica muito exagerado. Fiz uns testes com os esmaltes Revell 49 (light blue), Revell 55 (blue-green) , Humbrol 47 (sea blue) e com a laca automotiva Aerotech RLM 76. Essas cores foram sobrepostas à uma área verde escuro simulando a transição AII blue para o AII dark green.



Analisando o contraste, e verificando fotos da época, decidi que o Revell 55 realmente acentuava demais o tom azul nesta escala. Acabei usando o Revell 49, que é um pouco mais claro e acinzentado, o que corrobora a conhecida regra de adicionar branco às cores em escalas menores (scale effect). Ainda assim, achei que o tom podia ser um pouco mais claro, já que o wash vai escurecer sensivelmente o efeito final.



O AII green foi complicado. Não estava a fim de encomendar cores russas da linha White Ensign Models (que dizem ser excelentes) e ter que esperar um monte. Acabei optando pelo RLM 82 da linha automotiva Aerotech. Excelente tinta. No fim acho que faltou ao verde aquele toque oliva, enquanto que no azul faltou um pouco de branco. Ambos os problemas seriam corrigidos com um post-shading mais tarde, e então não estava esquentando muito a cabeça. Bem, mascarei as bordas do AII blue e meti bala com o AII green. Em alguns lugares, graças ao meu hábito de comer cachorro-quente enquanto monto, a fita levantou a tinta. Não tive opção senão retocar o azul, remascarar e aplicar o verde de novo. A laca automotiva tem uma vantagem que eu não conhecia: ao invés de lixar as áreas problemáticas, eu poli com polidor de metais (não de prataria, estou falando de polidor para ferramenteiros). Fica muito bom, embora seja esquisito ver uma área brilhando e as outras não (obviamente, antes dos vernizes). Aqui está o verde aplicado:



E enquanto a tinta secava, dei um wash inicial no trem de pouso:



Depois de uma longa pausa, retomei o projeto. O primeiro passo foi fazer um post-shading com um tom mais claro de verde em algumas áreas selecionadas. Uma mão de Future preparou o modelo para os decais. Neste ponto, paguei um preço alto por não escolher de antemão exatamente a aeronave que eu pretendia representar. Eu explico: os I-16 tipo 24 armados com canhões eram relativamente raros (tipo 24b). Os decais do kit (na versão verde) pertencem à uma unidade não identificada cujas aeronaves foram capturadas pelos alemães em 1941, e caracterizadas pelo raio pintado na cauda. Estes aparelhos possuiam numeração individual pintada na cauda, em vermelho, branco ou vermelho com delineado branco, enquanto o raio era branco. Acontece que nossos amigos da Hasegawa usaram prata em lugar do branco, inutilizando aquelas marcações. A saída foi improvisar um tipo 28 usando os decais do kit da ICM. Trata-se de uma marcação interessante, com um grande número "96" pintado na fuselagem. Mandei bala com esses decais, mas eram muito translúcidos - praticamente imprestáveis. Então os removi, e para meu desespero percebi que o amaciante de decais dissolveu parte da tinta do decal, deixando manchas brancas horríveis. Retoquei o verde e parti para o plano B. A esta altura eu havia vasculhado uns foruns russos e consegui algumas fotos interessantes do esquadrão representado pelos decais do kit, inclusive uma colorida:







Notem que a aeronave da primeira foto tem um número "15" pintado em vermelho no leme, quase imperceptível em preto e branco. O "15" da segunda foto está possivelmente pintado de amarelo, enquanto a última ilustra a aeronave que eu decidi representar (antes de ficar naquele estado lastimável). É um "4" branco, que eu poderia encontrar em alguma sobra de decais. Quanto ao raio, as únicas opções seriam mascarar ou recortar de uma folha de decal branco. Quando às estrelas, resolvi arriscar e usar os decais do kit, já que os da ICM não servem nem para militaria... Apenas removi o filme transparente porque os decais da Hasegawa vocês conhecem... é como rebitar uma chapa de alumínio no avião real de tão espessos.





No fim, os decais do kit se comportaram muito bem, e reagiram perfeitamente ao amaciante. E mal dá pra perceber que é um decal da Hasegawa:



Então foi em busca de um número "4" branco. Não importa quantas folhas de decal vc acumula... Murphy estabeleceu em seu famoso princípio que você não vai achar o que precisa. Pelo menos eu consegui um número de um velho kit do N1K2 da Hasegawa, mas o estilo da escrita era diferente do que usualmente encontrado nos aviões russos. Com um estilete afiado eu modifiquei o "4" de acordo com o que as fotos da época mostravam (é só uma questão de "abrir" o "4" e adicionar um pedestal no lado inferior do numeral). A foto colorida acima mostra alguns desses detalhes. O raio foi medido da folha de decais do kit com um compasso transferidor e redesenhado com o auxílio de um tecnígrafo sobre uma folha de decal branco. Usando um estilete novo eu cortei levemente sobre as linhas desenhadas e apaguei os traços de referência com uma borracha de lápis. Então os apliquei normalmente. Não ficaram exatamente iguais aos da foto, mas eu não conseguiria cortá-los tão finos:





Por fim, adicionei uma marcação típica na barriga dos I-16, um pouco à frente da bequilha (não me perguntem o que é, talvez seja um aviso sobre um ponto rígido da fuselagem para levantar a cauda).




A pintura brilhante evindencia as áreas clareadas com o post-shading. Normalmente o verniz fosco ameniza o efeito.



Os decais foram selados com Future, e então comecei o wash. Ao invés de usar um removedor rás comum, utilizei o brush cleaner da testors. Fiz alguns testes antes para me certificar que o verniz não iria reagir com esse solvente. A vantagem é que, sendo um diluente para esmalte sintético, evapora muito mais rápido. Assim o tempo entre a aplicação e a limpeza é muito menor, e permite wet brushing muito convincentes. Usei um pouco de tudo, mas sombra natural sendo a minha favorita para aplicação geral. Depois escureci a mistura com preto para as superfícies de controle e flaps, enquanto o siena queimado foi usado para simular vazamentos de óleo em torno dos painéis do motor.



Procurei, já nesta etapa, criar alguns efeitos como vazamentos de óleo/combustível, mas evitei o acúmulo excessivo de tinta nos rebites, para que não fiquem parecendo "pontos" escuros muito destacados. É bom lembrar que o efeito geral do wash aparece melhor depois da aplicação do verniz final, que uniformiza o brilho (ou falta dele) do modelo. É importante o modelista se lembrar disto durante esta etapa para não fica com o famoso "efeito caneta nanquim" depois.







O mesmo procedimento foi aplicado ao cowling. Nas superfícies inferiores, procurei enfatizar marcas de vazamento. Depois de envernizado, serão adicionadas as marcas de escapamento, riscos, pintura descascada etc. Então por enquanto as coisas ainda estão meio "limpas". Também dei umas batidas com um pincel fino usando o azul claro para simular o descascado da faixa vermelha à frente da bequilha.





As rodas e a bequilha já estão terminadas também. O próximo foi é envernizar o bichinho e terminar o envelhecimento... Os I-16 tinham um acabamento brilhante, pois as equipes de manutenção poliam as asas e fuselagem com cera de abelha para aumentar em alguns Km/h a velocidade. A versão que eu escolhi pertence a um esquadrão em retirada, e as aeronaves seriam logo abandonadas (e capturadas pelos alemães - veja fotos acima). Ponderei então que a manutenção já não era tão boa, e decidi não usar um acabamento brilhante. O que eu fiz foi aplicar filtros de verniz brilhante, semi-brilhante e fosco dependendo da área da aeronave. Na área superior da raiz das asas eu carreguei mais com o verniz fosco, já que é onde os mecânicos e pilotos trafegavam. O fosco também predominou na parte de baixo da fuselagem, em particular atrás do motor, em torno dos porões das rodas e da bequilha (por motivos óbvios), bem como nos profundores, que quase tocavam o chão.





Como era esperado, os vernizes ressaltaram mais as regiões que tiveram wash aplicado. O próximo passo foi aplicar o post-shading sobre linhas de painel selecionadas, usando aerógrafo e a famosa mistura black-brown popularizada pelo modelista australiano Chris Wauchop. Fiz isso com o aerógrafo Sagyma SW770, que permite linhas bem mais finas e controláveis que o meu velho Badger 100. Não que o Badger não consiga, mas com o Sagyma eu fiz toda a operação em menos de dez minutos, e quase sem chance de errar. Também usei o black-brown nas articulações das superfícies de controle, concentrando o efeito em torno das articulações. Ainda falta fazer alguns riscos e descascados com lápis Prismacolor.



As marcas de escapamento foram aplicadas logo depois, também usando o Sagyma e a tinta Gunze Soot (H343), sem esqucer as portas do porão de rodas, que ficavam logo atrás dos escapamentos inferiores:




Enquanto tudo secava resolvi fazer a base para o modelo. Usei uma base de madeira que eu padronizei para meus modelos. Não tirei fotos durante a construção, então aqui vai um resumo. Inicialmente cortei uma placa de poliestireno do tamanho adequado e colei sobre a base de madeira (para evitar trabalhar diretamente sobre a madeira). Mascarei as bordas da base para não manchar a madeira e apliquei uma camada de gesso líquido Liquitex para simular as irregularidades do terreno. Então apliquei uma camada de cola para madeira diluída em água e salpiquei areia fina e pequenas pedras. Aqui vai um pequeno segredo para remover aquele brilho da grama estática: eu apliquei a grama estática da Woodland Scenics para simular aqueles campos de futebol "ralados" (ou planícies castigadas pela neve/degelo repetidos), sem me importar com a cor usada (aliás, não tenho muitas cores de grama, mesmo). Depois aerografei tudo com Tamiya Desert Yellow (XF-59), incluindo a grama. A seguir, aerografei
Tamiya Buff (XF-57) nas áreas sem grama para dar um aspecto mais empoeirado (ou mais seco, sei lá...). Dessa forma, as áreas com grama ficam com um fundo um pouco mais escurecido, indicando maior acúmulo de umidade. Só então eu apliquei um dry-brushing verde/amarelado (com tinta a óleo) mais concentrado nas áreas centrais dos tufos de grama. Acho que ficou bem convincente.



Para adicionar algum interesse, também plantei alguns capins usando pequenos tufos removidos de um pedaço de carpete verde (excelente dica do Jarbas). É só uma questão de colar, aparar as fibras mais mal comportadas e dar uma leve amassada com os dedos. As copas desses foram levemente aerografadas com um tom mais amarelado:



E no canto da base eu finalmente encontrei uma desculpa para usar um pacote de líquens que eu comprei a mais de cinco anos. A idéia era fazer um pequeno arbusto, e o líquem sozinho não impresiona muito. Então eu apliquei folhagem fina da Woodland Scenics nas copas dos galhos e dei uma leve empoeirada com o Buff da Tamiya. O tronco foi pintado a mão, também com o Buff. Engana bem, desde que vc não fique tirando fotos com macro:



A seguir eu instalei os escapamentos do motor. Acabei removendo-os do motor e instalando um por um pela lado de dentro da fuselagem. Fiz isso para evitar o risco de lascar a pintura.

O próximo passo foi adicionar um pouco de descascado na pintura. Este efeito deve se limitar às partes metálicas (o I-16 tinha um chapeamento predominantemente de madeira). Usei basicamente dois métodos: lápis metalizadores e a técnica da esponja. O material é este aqui:



Os lápis são empregados para descascados mais pontuais e riscos, pois permitem grande controle sobre a aplicação. São mais efetivos em pinturas foscas (o que não era o caso). Os que eu usei são (ver foto acima):

1. Lápis metálico Faber Castell #68 (chumbo) - usado para aqueles descascados mais escuros.
2. Lápis metálico Faber Castell #128 (prata) - usado para descascados mais recentes.
3. Lápis metálico Prismacolor PC949 (metallic silver) - idem 2, mas mais opaco e com mina mais dura que os Faber.
4. Lápis de cor Prismacolor PC1063 (cool grey) - ideal para fazer riscos e abrasões onde o o tom metálico não é desejado.
5. Lápis Faber Castell F - são muito bons para fazer riscos e descascados bem oxidados, sem eliminar o ligeiro tom metálico. O F funciona melhor sobre pinturas foscas.
6. Lápis Faber Castell 4B - idem 5, mas por ser mais macio, é mais indicado para pinturas brilhantes ou satinadas.

Já a técnica da esponja consiste em usar um pedaço de espuma macia irregularmente cortada (ou rasgada, mas sem pontas) e usá-la para produzir os descascados de forma razoavelmente aleatória. A tinta desejada é depositada sobre um cartão, e a esponja é levemente embebida com a tinta (basta tocar a poça de tinta com a borda da esponja). Então o excesso é removido batendo a esponja sobre o cartão até ela praticamente não marcar mais. Este é o ponto. Então pressiona-se levemente a esponja sobre o modelo na área desejada. Isto deixará vários chippings dispostos irregularmente. Repetindo o processo é possível carregar mais no efeito, mas lembre-se de girar a esponja para evitar padrões repetitivos. Uma boa idéia é dispor de espumas de diversas graduações, dependendo do efeito desejado. A técnica também funciona muito bem para bordos de ataque de asas e capotas de motor, e pode-se obter efeitos interessantes usando cinzas ou variações da cor da camuflagem. O segredo está na tinta, que deve ser de secagem relativamente lenta. Tenho usado basicamente as seguintes tintas (ver foto acima):

A. Tinta acrílica Vallejo Model Air #062 (Aluminum) - Não é a Vallejo comum, trata-se da linha Model Air, que é pré-diluída para aerografia. Assim a técnica não deixa descascados em alto relevo, o que aconteceria com uma tinta mais espessa.
B. Nankin Acrilex cor Prata - Meu favorito. Esse troço é melhor que muita tinta por aí. Excelente efeito metálico, grão fino, bem diluído e, como todo bom nanquim, seca rápido.
C. Laca Gunze #211 (Chrome) - É melhor diluir um pouco essa, porque ela seca muito rápido.

É claro que outros produtos devem funcionar também, esses são apenas a minha preferência pessoal. Voltando ao I-16, eu iniciei aplicando riscos e descascados pequenos na barriga da aeronave, tentando reproduzir os efeitos de pedras e detritos que invariavelmente eram projetados durante pousos e decolagens. Não usei a esponja aqui, já que além de suja, a área era dominada por madeira. Aqui está o resultado final:



Note-se como o efeito fica evidente apenas quando se olha de perto, mas faz muita diferença:



Iniciei o descascamento na parte de cima com os lápis 1 a 4, me concentrando nas bordas dos painéis do motor e portas de acesso aos canhões. Os reforços (fairings) das superfícies de controle da cauda receberam um tratamento similar, mas menos intenso (me limitei a aplicar o lápis nos cantos mais proeminentes). A diferença de brilho entre os lápis ajuda a deixar o efeito bem convincente, sobrepondo descascados "recentes" e "antigos". É imperativo ir verificando as fotos do avião real durante o processo. Uma vez satisfeito com os descascados menores, parti para a esponja, sem abusar do efeito (cagaço meu, já que as fotos das aeronaves deste esquadrão mostram um descascado bem apreciável):





O mesmo processo foi aplicado ao nariz e o spinner. As hélices, no esquadrão representado, eram em alumínio natural nas faces da frente e preto fosco nas de trás (para evitar ofuscamento da visão do piloto). Então, dei uma boa descascada na parte preta, enquanto a face em alumínio natural foi pintada com laca Gunze Chrome (#211):



A seguir eu colei a placa de blindagem atrás do piloto e, sobre esta, o encosto estofado:



As aberturas do sistema de iluminação natural foram finalmente "envidraçadas" com Humbrol Clear Fix (bem melhor e mais fácil que tentar colar discos transparentes):



E este é o estágio atual:





Os detalhes finais são os seguintes. Primeiro, fiz uma mira em scratch, usando um velho fret de miras da Eduard:



Mascarar o canopy seria um problema (para mim, pelo menos). A peça é extremamente pequena, então resolvi usar um método pouco convencional. Primeiro, procurei na internet uma figura da máscara da Montex para o I-16 em 1/32. Essa figura foi tratada e usada como fundo sobre a qual eu desenhei um novo contorno, usando as dimensões da peça do kit:



Esse contorno final foi usado para cortar uma nova máscara com fita da Tamiya. A fim de facilitar a adaptação da máscara ao kit da Hasegawa, a área central foi removida. Depois de aplicada a máscara, as áreas abertas foram fechadas com pequenos pedaços de fita. Pensando em dar um toque diferente, pintei os rebites da estrutura da carlinga com uma canera nankin 0,13 mm à mão livre, mesmo. Então aerografei o
IMUP blue-grey primer e sobre esse minha velha mistura mágica de Testors Metalizer Aluminum e Testors Metalizer Sealer (a mesma usada no Spirit of St. Louis). Ficou legal... olhando de perto dá pra ver os rebites do lado de dentro:



Outra coisa que eu já ia esquecendo é a porta do cockpit. Fiz tudo em plástico e pedacinhos de alumínio, usando as linhas de painel do próprio kit como base. A parte interna da porta era normalmente coberta com couro estofado. Reproduzi isso no meu kit (só na porta aberta... o estofamento do lado direito foi arrancado pelos mecânicos... Rats!), evidenciando os olhais de fixação do couro com um rebitador. Ficou assim, mas ainda faltam duas alavancas de travamento da porta:



O trabalho a seguir foi basicamente de colagem das peças faltantes. Comecei pela capota do motor e hélice (que nem levou cola), depois a bequilha e então parti para o trem de pouso. A colagem em si não foi difícil. O que me arrancou os pentelhos foi a instalação dos cabos de retração das portas do trem de pouso. Para confeccionar os cabos principais, que efetivamente retraíam as pernas do trem de pouso, usei stretched sprue feito com sprue de vinil... aqueles que sobram das esteiras de blindados. A idéia é boa porque o fio resultante é relativamente flexível, e suporta alguns mal tratos sem romper. É interessante para antenas também, já que ele não arrebenta tão facilmente quanto os feitos com sprues de poliestireno. Os cabos dos freios também foram feitos dessa maneira, e colados rente a um dos braços do trem de pouso.





Finalmente, colei a mira à frente do cockpit e instalei a carlinga com cola branca. Tive que fazer um 'puta que pariu' de última hora a partir de um sprue fino, que foi pintado em cor de couro e instalado abaixo da mira. Então colei a porta do piloto (já com os manetes instalados) e dei alguns retoques no descascado aqui e ali. Por último, esfreguei um pouco de pó prateado sobre os canhões e apliquei pó cor de poeira sobre a raiz das asas, ambos
do Tamiya weathering master.





Então coloquei o bichinho sobre sua base e fiquei olhando para ele enquanto pensava: "Como uma merdinha desse tamanho pode ter dado tanto trabalho?". Depois de uns dez minutos, enjoei dele. Hora de terminar meu He-170. Fiquem com algumas fotos do modelo acabado:


































This model was awarded a Silver medal in "Single Engine Propeler Allied Aircraft - 1/72 scale" category during the Brazilian IPMS National Convention in 2008:



Ficha técnica
Kit: 
- Hasegawa AP28 (#51328)
Acessórios: 
- Cintos de segurança: fotogravados antigos da Eduard para a Luftwaffe
Transplantes: 
- Paineis do motor: cópia em resina do I-16 da ICM 1/72
- Rodas:
cópia em resina do I-16 da ICM 1/72
- Portas principais do porão de rodas: cópia em resina do I-16 da ICM 1/72
Tintas básicas: 
- Primer: Gunze Mr. Surfacer 500
- IMUP blue-grey primer (cockpit): misturado com cores básicas Vallejo
- AII blue: esmalte sintético Revell #49 - Light Blue
- AII green: laca automotiva Aerotech RLM 82
Observações: 
- O cockpit é scratchbuilt
- Os canos do escapamento foram feitos de tubos de latão
- O spinner foi termoconformado a partir de uma cópia em resina do I-16 da ICM
- O mecanismo de retração das portas do trem de pouco são
scratchbuilt
- Tubo de Pitot feito com agulhas de aço inoxidável

Rato Marczak © 2007